Muere lentamente, quien pasa los días quejándose de su mala suerte o de la lluvia incesante. (...) Evitemos la muerte en suaves cuotas, recordando siempre que estar vivo exige un esfuerzo mucho mayor que el simple hecho de respirar. Solamente la ardiente paciencia hará que conquistemos una espléndida felicidad. (Pablo Neruda).
Todo ano é assim. De repente ele se vai, some madrugada adentro e dele só restam as lembranças, fotografias, filmes, tudo em flashback. Vai para não voltar nunca mais. Vira um registro, uma referência; para alguns, uma reticência; para outros uma exclamação; para todos, um ponto final. Seu adeus é tão irreversível como morrer. E, de certa maneira, é um retrato da morte, um aviso de que também partiremos e nos converteremos nessa matéria confusa e ambígua da lembrança.
A partida é uma espécie de antinarciso, porque nos damos conta de que não somos o que imaginamos ser. O espelho do rio nos mostra um rosto já diferente, mais envelhecido e menos convidativo pelas marcas de alguns sonhos extraviados e de amores perdidos, alguns até impossíveis ou sequer conhecidos, experimentados. A partida é um túnel para a luz, se luz houver, de uma despedida inevitável de nós mesmos.
Os humores da economia podem nos afetar; os destemperos da política podem nos incomodar; as narrativas do que sucedeu podem nos comover, mas nada se compara à angústia do vazio que nos deixa essa partida. Dirão que esse sentimento é fruto da perda de sentido de que somos mais que matéria ou da estetização da vida, da vida feito mercadoria, mas será que os que me dizem as verdades também não sentem lá no fundo que a partida é um golpe, vá que seja pequeno, mas um golpe na pretensão recôndita de eternidade?
Certo é que todo ano ele parte e nos deixa essa sensação de incompletude, nos lembrando que somos pó, poeira, ilusão. Ainda assim comemoramos menos por essas lembranças, mais por que outro chegará com seus cordões de esperanças de que haverá espaço para novos sonhos, novos desejos, outros recomeços. Brindamos o amor e a vida, outra vez, eternizada ainda que seja nos instantes de cada hora que nos fazem lembrar de que vivemos e isso é que importa, vivemos a graça de viver. Então sorrimos, apagando toda amargura e aquele hálito azedo da despedida. Somos nós, mas somos, de novo, diferentes, um narciso remoçado, avançando num túnel iluminado que se inicia a cada réveillon.
Não há razão para tristeza, pelos menos agora. Nem para a dor, pelo menos agora, Há motivos para festejar, independente da economia, da política ou do que passou. O tempo tira, mas, de certo modo, nos devolve. E continuaremos assim até a invisibilidade ou ao próximo dezembro. O interessante de tudo é que todo desespero e toda felicidade nascem de um pequeno e convencional gesto: mudar a página do calendário.
Feliz 2010 para todos!
2 comentários:
Feliz 2010 pra você também.
Tenho a sensação que só agora o ano de 2008 acabou pra mim. Foi uma travessia. E você Ulisses, ainda luta contra as correntes que você mesmo pos em si? As travessias são a um só tempo penosas e prazerosas, como quase tudo na vida... Parafraseando Cecília, aprendamos a ser como as arvores que se deixam cortar para voltar inteiras na primavera! Que venha o calor do verão; a ternura do outono; a preguiça do inverno e, enfim, a primavera, pra poder gostar e andar junto, não é assim? Quem sabe até sob uma chuvinha fina...tendo um mar revolto de despedida como expectador...
Ô Zé Adércio, cê fechou o Blog? Tá aposentado? Esse país é injusto demais para perdermos espaços de debate! Get Back, Jo, Jo!
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