domingo, 26 de dezembro de 2010
Termidores e Whigs
A Suprema Corte dos EUA caminha para a esquerda?
STF: Vaga perenizada
Suprema Vacância
No dia em que Dilma Rousseff receber a faixa presidencial, o STF atingirá o recorde de 154 dias sem a formação completa. A demora na indicação do substituto de Eros Grau, aposentado em agosto, em muito supera o hiato de 57 dias entre a saída de Nelson Jobim e a entrada de Cármen Lúcia, em 2006. Em seus dois mandatos, Lula escolheu oito ministros. Em quatro anos, Dilma deverá nomear, além do sucessor de Eros, os de Cezar Peluso e Ayres Britto, que se aposentam em 2012. Isso se não for aprovada a "PEC da Bengala", que eleva de 70 para 75 anos o limite de idade para os membros da Corte.
Dilma terá a chance de indicar outros ministros ao Supremo em caso de aposentadorias voluntárias, como se especula que possa acontecer com Celso de Mello, decano da Corte, e Ellen Gracie. Há ainda as fortes dores nas costas de Joaquim Barbosa, que ameaçam tornar inviável a permanência do relator da ação penal do mensalão. O ministro nega essa hipótese.
Demora para nomear ministro do Supremo aproxima Lula de Floriano Peixoto (R7)
A redução do quorum de ministros do STF a um número par provocou um dos mais graves impasses da história da mais alta corte do país. Foi a divisão do Supremo em duas partes matematicamente iguais que levou à indefinição da posição da corte na questão da aplicação da Lei da Ficha Limpa, que ainda persiste. A situação ganhou contornos ainda mais dramáticos, por tratar de matéria de grande repercussão política. Ficou na mão do presidente dar a última palavra na decisão do Supremo, já que caberá ao ministro que ele indicar dar o voto que desempatará a questão.
Mas não é a primeira vez que um presidente da República tira proveito do privilégio de ser o autor da indicação dos ministros do Supremo. Em 1893, o presidente de plantão, marechal Floriano Peixoto, contrariado com as decisões do Supremo, acabou inviabilizando o seu funcionamento ao deixar de promover as indicações das vagas que iam se abrindo. As diferenças entre Executivo e Judiciário ficaram patenteadas numa frase atribuída a Floriano que ficaria célebre:
- Se os juízes concederem Habeas Corpus aos políticos, eu não sei quem amanhã lhes dará o Habeas Corpus que, por sua vez, irão necessitar. Ao final de 1893, um terço dos 15 postos de ministros do Supremo estavam vazios e a corte teve de suspender as sessões por falta de quorum.
Uma outra peculiaridade contribuiu para que o Executivo inviabilizasse o funcionamento do Supremo. O presidente e o vice da corte, na época, tomavam posse perante o presidente da República. Além disso, o procurador-geral da República era nomeado pelo presidente, que escolhia um nome dentre os ministros da corte. Como o presidente não recebia nenhum ministro em audiência, a casa ficou sem direção.
A crise envolvendo Executivo e Judiciário, acabou estendendo-se ao Legislativo. Em 1893, Floriano Peixoto indicou cinco nomes para o Supremo. Dois deles eram generais do Exército, um era o médico Cândido Barata Ribeiro, que chegou a assumir o posto e atuou na corte durante 10 meses. Mas ao fim e ao cabo, todos foram rejeitados. Na sessão que rejeitou o nome de Barata Ribeiro, o argumento dos senadores, defendido por João Barbalho Uchoa Cavalcanti, representante de Pernambuco, era que o candidato não tinha a formação jurídica exigida pela Constituição. O texto constitucional de 1891, reza em seu artigo 56 que o tribunal compor-se-a de 15 juízes entre cidadãos de notável sabe. Para os senadores, notável saber era saber jurídico.
Barata Ribeiro, que era médico, tinha notável saber jurídico, como mostram os pedidos de Habeas Corpus que despachou nos meses em que esteve na corte. O relator de sua rejeição, senador Uchoa Cavalcanti haveria de assumir ele próprio uma vaga no Supremo quatro anos depois. Superada a crise, Floriano Peixoto volta a nomear a partir de 1894. Em seus quatro anos no poder, nomeia nada menos que 15 ministros para o Supremo.
sexta-feira, 17 de dezembro de 2010
Os 7 erros da Suprema Corte dos Estados Unidos
Se os legisladores erram, os juízes podem também errar. Quando aqueles se equivocam há sempre estes para reparar. Mas e quando os próprios juízes erram? Diremos sempre: há sempre o povo, fonte de todo poder, para corrigir. Os legisladores podem desafiar a decisão da Corte com novas leis ou mudanças constitucionais, pois são representantes do povo. Mas, então, para que servirá o controle de constitucionalidade? Apenas um obstáculo a mais no processo deliberativo? E as minorias e os direitos fundamentais como ficam? Eis o principal dilema da teoria constitucional.
ìndice de democracia do EIU
O relatório indica que apenas 12,3% da população mundial vive em democracias plenas. Viveríamos um tempo de "recessão democrática",
terça-feira, 30 de novembro de 2010
Filosofia em gotas: Hume
domingo, 28 de novembro de 2010
OPERAÇÃO LIMPA RIO
quarta-feira, 17 de novembro de 2010
O que motivou a revolta de Gilmar Mendes
Gilmar atirou no Congresso e no STF
Resposta de Gaspari para Gilmar
terça-feira, 16 de novembro de 2010
Réquiem de um amor
Eu tenho nojo de você e tenho nojo de mim por ter suportado esse amor e até de ter também amado. O que ele poderia dizer diante desse decreto? Pensou em responder, mas se limitou a arquear as sobrancelhas. Não sabe bem por que, de repente, pensou naquelas duas estatuetas entrelaçadas que vira no Louvre. Uma vinculada à outra de modo definitivo, pelo mármore e a mão do artista. Diria uma para outra: eu sinto nojo desse seu amor, dessa sua servidão, dessa xifopagia eterna. Teriam dito mesmo isso? Sequer se lembrava se estavam mesmo em Paris ou se foram vistas no Prado. Talvez no MoMA como pedras levemente separadas por traços finos que ora deixavam notar o corpo de cada uma, ora tornavam tudo indistinguível, entremeado como fossem mesmo feitas uma para outra.
De longe se podia notar mais claramente que se abraçavam e se beijavam numa sensualidade que, apesar de pétrea, era comovente. Amor assim não haveria e, no entanto, uma estaria a dizer calmamente para a outra: um nojo. Esqueceu-se tão rápido quanto lembrara da imagem e pensou na princesa persa, bela, formosa, mas que possuía um hálito azedo, talvez produto de uma bactéria sulfurosa que regurgitava no estômago seus vapores fenólicos. Uma princesa persa linda, mas, ao mesmo tempo, um nojo, pois quem se atreveria a beijar aquela boca, quem sequer a ouviria também sussurrar: eu tenho nojo de você e tenho nojo de mim? Pois Eva Brown não suportara a halitose de Hitler, embora o general Johannes Blaschke tenha registrado secretamente as queixas da primeira-dama nazista? Jó confessara: “o meu hálito é intolerável à minha mulher” (19,17).
Poderia ser isso mesmo, ele deveria ter um hálito assim e até bafejou contra a palma da mão aberta entre a boca e o nariz para conferir, mas nada sentira. Vai ver que o olfato se acostumara com o cheiro. Entretanto, dizia de si para si, reconfortando-se, tudo tem um cheiro, tudo tem um jeito, tudo tem uma história que sempre poderá ser estranha ou nauseabunda sob um determinado ângulo, gosto ou pensar. O nojo poderia não ser do hálito, cogitou, mas do hábito ou do caráter. Então seria tão perverso ou pervertido quanto Claudius de Hamlet, Iago de Othelo ou, quem sabe, Mr Hyde de O Médico e O Monstro. Pior: um vilão clichê, meio Dom Juan, metade Casanova, inteiramente avinagrado feito vinho de véspera, aberto e podre.
De sobressalto, deixou de lado Jó, Hitler e os vilões, a princesa e as estatuetas, e imaginou que tudo fora um sonho, um pesadelo, talvez. Não escutara jamais aqueles dizeres. Nojo é a última fronteira da dignidade. De um personagem ou de uma história. Como pode alguém dizer que ama e se enojar de amar, de ter amado? Amor sob condição, amor sob validade curta, amor sem amor, só pode, dizia o abajur com um ar de pai, um abajur que não lançava luz apenas à leitura do livro, mas ao espírito conturbado, à alma dolorida que viajava de Paris a Madrid e Nova York sem sair do lugar, apenas para não ter à lembrança de que as palavras haviam sido ditas de uma boca que antes se calara em sua boca, sem nojo, sem os vapores da princesa persa ou a perversão de Iago, numa xifopagia infinita, mesmo que provisória, temporária, mas tão entranha que, como as estatuetas, confundiam-se.
Fechou o livro que supostamente lia e foi direto para a janela de onde vinha aquele vento oeste, frio e forte que lhe trazia a noite da cidade, onde seu amor, seu ex-amor se perdia à procura de quem sabe outro nojo. Sentiu que seu coração parecia desacelerar ao ritmo de um suor criogênico, o ar a faltar e o estômago convulsionado. Firmou-se na grade da sacada e jura que ouviu o vento soprar: calma, todo enjôo um dia passa. E a dor também. Deixou-se ficar às primeiras réstias da manhã. Pouco se sabe depois disso. De seu enjôo, de seu amor, de sua vida.