terça-feira, 30 de novembro de 2010

Filosofia em gotas: Hume

David Hume (7/5/1711-25/8/1776) foi um filósofo, historiador, economista e ensaísta, conhecido principalmente por seu empirismo em relação ao conhecimento humano, seu ceticismo metafísico e utilitarismo nos domínios da moral e da política. Ele é considerado uma das figuras mais importantes da história da filosofia ocidental e do Iluminismo escocês. Seu trabalho segue a tradição do empirismo britânico que conta com nomes como Francis Bacon (1561-1626), John Locke (1632-1704) e George Berkeley (1685-1752), tendo forte influência dos nominalistas da Escola de Oxford, no século XIII.
Em Tratado da Natureza Humana (1739), Hume se esforçou para criar uma "ciência do homem" ao mesmo tempo naturalista e totalizante (p. 8 et seq). Propunha-se a examinar a base psicológica da natureza humana. Contrariamente aos racionalistas, notadamente Descartes, ele afirmava que a crença - e não a razão - regia o comportamento humano. Sua frase mais famosa revela bem isso: "A razão é e deve ser apenas escrava das paixões" [p. 228]. Foi sempre opositor da existência de ideias inatas, afirmando que os seres humanos tinham apenas conhecimento das coisas por meio da experiência direta.
As percepções foram, por ele, divididas entre impressões vivas e fortes ou sensações diretas e "idéias" mais fracas, que seriam "copiadas" das impressões. Para ele, o comportamento mental era governado pelo costume ou hábito. O uso da indução, por exemplo, só se justificaria pela nossa ideia de "ligação constante" de causas e efeitos [p. 48 et seq]. Essa ligação seria, todavia, fraca: a regularidade com que dois eventos se apresentaria faria com que imaginássemos que um era causa do outro. Seria, portanto, uma crença ou um hábito de nosso pensamento.
Sem impressões diretas do "eu metafísico", dizia, os seres humanos não tinham a noção real do "eu", mas apenas uma vaga noção ou um feixe de sensações associadas ao que seria o "eu". A razão não era capaz de definir os fins, apenas fornecer os meios, a partir do exame dos conceitos e experiências, que realizariam tais fins (intrumentalismo). Essas ideias estão na base da teoria das escolhas racionais de nossos dias.
Hume defendia ainda a compatibilidade entre o livre-arbítrio e o determinismo. Um implicaria o outro (p. 135 et seq, 332). Sua tese moral era, além do mais, sentimentalista: a ética seria baseada em sentimentos, em vez de de princípios morais abstratos (p. 315 et seq). A razão não motivaria a ação, mas os desejos e sentimentos. Seriam eles que produziriam as crenças morais (antirrealismo moral).
Sua influência no direito e na argumentação moral também foi sentida com a distinção entre o mundo do ser e o mundo do dever ser. Haveria uma distinção fundamental entre um enunciado descritivo (isto é x) e um enunciado prescritivo (isto deve ser x). Não se poderia dar um salto entre os dois planos. De algo que é não se pode, por exemplo, extrair uma prescrição, uma norma (falácia naturalista de Moore).
Em Idea of a Perfect Commonwealth, Hume se opôs à ideia defendida por Montesquieu de que toda grande nação seria corrupta e não governável. Quanto mais extensa fosse a nação, dizia, mais tenderia a ser estável: "Apesar de as pessoas como um órgão serem incapazes de governar, caso elas se dispersarem em pequenas unidades (tais como colônias individuais ou estados) elas são mais suscetíveis de se submeter à razão e à ordem; a força das correntes populares (populismo) e marés é, em grande medida, quebrada". A coordenação da pluralidade impediria as conspirações das elites. Os federalistas foram muito influenciados por Hume. Madison, em Notes on the Confederacy [1787], praticamente repetia as ideias políticas de Hume.
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