“Happiness and joy always eludes a hypocrite. ”(Sam Veda)
A metafísica é traiçoeira. Ela se inventa nas formas mais inesperadas. Não se pergunte mais sobre “o que somos”, “de onde viemos” ou “para onde estamos indo”. São perguntas difíceis de responder. O tempo nos remete apenas à transitoriedade de que somos e deveria, por isso, bastar. Não basta. Mesmo quando voltamos a preocupação para algo mais nobre como a política ou a sociedade, a inquietação reaparece de modo diferente.
Pergunte-se, por exemplo, por que temos de conviver com a injustiça e a desigualdade. Por que há Ronaldos e há Arquibaldos. Nem toda persistência e disciplina explicam o sucesso. Nem todo desdém ou desleixo justificam o fracasso. E estão todos aí. A sociedade como a vida serão intrinsecamente injustas? Se tudo for produto de uma vontade oculta de sobrevivência a indagação não faz sentido. A vida é mais do que está. Toda solidariedade não passa de gesto de poder individual.
Veja o melhor regime político já experimentado, a democracia, e o quanto está à distância do porto. Todo aperfeiçoamento é sempre um salto de sapo que acelera em progressão geométrica na metade da amplitude anterior. Temos que nos acostumar com o resultado possível de nossos sonhos. E conviver com a dúvida se os sonhos não são feitos para iludir a plateia e a nós mesmos. Não somos feras somente. E sem máscaras. Embora exista um extrato de nós tão primitivo que respira à base de enxofre.
Veja essa parte de nós que habita a high society. Não confundi-la com a elite. Em comum têm o desejo de mando. Uma tem efetivamente o domínio das consciências. A elite. Outra saboreia apenas os prazeres da festa. A high society. A frivolidade das intenções se compara à fraqueza de caráter e ao déficit de cultura. Cultura é uma palavra perigosa, pois nessa parte de nós, não necessariamente eu, você, mas um nós da coletividade, nessa parte de nós há especialistas em vinhos, em carros e os Jet-set conhecem a geografia das costas e dos resorts como poucos.
Curioso é o metro do reconhecimento. Mede-se o prestígio pelo número de convites a eventos de restrita frequência. Se não for conviva, não mais vive. E vem a depressão. Ou pior, a morte social. São herdeiros tardios daquela espuma burguesa que se formou na passagem da Idade Média à Moderna. É fácil vê-los no esforço de exibição do cardápio de sucessos. E de promoção. Pois vale mais uma aparência bem cuidada do que a substância. Epicuristas de fachada, dionísicos de araque, persistem como retrato inacabado da injustiça.
Será que a sociedade não sobrevive sem eles? Por mais que a sociologia tente responder, apenas a metafísica os entende e responde. E eles, incríveis metafísicos, estão sempre a se perguntar: quem somos, de onde viemos, para onde vamos. Claro, não têm em mente explicações complicadas sobre filosofia ou política. Contentam-se e concentram-se na essência do que aparece, apofânticos por crença ou natureza. Estarão errados? Não ouse responder. A vida está, não é.
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