Em seu livro "Capitalism 4.0. The Birth of a New Economy in the Aftermath of Crisis” [Capitalismo 4.0. O Nascimento de uma Nova Economia depois da Crise], o economista russo, radicado na Inglaterra, Anatole Kaletsky analisa a crise econômica entre 2008 e 2010 no ciclo das crises do capitalismo. O sistema econômico esteve à beira do colapso no final do século XIX, nos anos 1930 e na década de 1970. No momento atual, vive uma transição para uma nova etapa: o “capitalismo 4.0”.
Em cada uma das versões anteriores, o capitalismo sofreu alterações especialmente na articulação entre o poder econômico, cujas decisões se baseiam do voto do lucro ou dinheiro, e no poder político, assentado no voto dos cidadãos.
Se, durante o século XIX, essa interações eram negligenciadas, limitando-se ao custeio privado do aparato militar e à defesa de leis que beneficiassem o mercado, nos anos 1930 tornaram-se visíveis seus efeitos e causas, estigmatizando o mercado. A terceira etapa, desencadeada pela dupla Margareth Thatcher e Ronald Reagan, estigmatizou, por sua vez, o Estado.
O cenário agora é outro. Diferente dos credos liberais e sociais, a quarta geração do capitalismo tem de conviver com a contingência e falibilidade dos mercados e dos governos. E com a necessidade de uma interação mais sistemática e transparente entre eles. A crise atual levou a credibilidade dos dois à lona, assim como suas perspectivas unilaterais.
O novo capitalismo deve contar com mais e menos Estado. Mais Estado em áreas que não se limitam apenas ao controle da inflação ou à política fiscal. É preciso que os governos adotem uma sólida gestão macroeconômica, promovendo o crescimento e o emprego. A mistura revela um keynesianismo sem Keynes.
Menos Estado, porém, no âmbito das políticas sociais. Os sistemas previdenciários como hoje existem e as demandas por serviços cada vez mais sofisticados de saúde e educação requerem uma nova distribuição de papeis. O Estado não pode se ausentar desses campos, mas não deve agir como único fornecedor de serviços. Antes deve estabelecer relações de parceria com o setor privado, induzindo consensos.
No campo da educação, por exemplo, deve dar prioridade ao ensino fundamental e médio, sem negligenciar o acesso aos cursos universitários. As escolas não devem ser públicas, mas estimuladas pelo poder público a adotar políticas de qualidade e de inclusão social. Esse é o desafio da área: ser inventiva e responsável sem gerar exclusão social. Admite, por exemplo, que o governo pague bolsas de estudo para os estudantes carentes.
Na saúde, o problema é ainda maior. Argumenta que a alternativa deve estar entre a mercantilização da saúde, ao estilo norte-americano, e a sua consideração como bem público, como sucede na Inglaterra. Outra vez, as relações entre mercados e governos devem ser rediscutidas sem uso de estereótipos e maniqueísmos.
Os políticos têm de conduzir-se pela ética, inclusive nas eleições, pondo, por exemplo, claramente aos eleitores as alternativas disponíveis e a crise por que passam os gastos públicos. O objetivo é obter consensos ou, quando menos, aceitação de uma dura realidade: aumento de tributos e diminuição de benefícios sociais. A experimentação ousada e persistente deve ser a tônica dessas relações.
O problema está nesse ponto: como ser ousado e responsável ao mesmo tempo. E como possibilitar que a lógica do mercado e a lógica da política consigam conviver de modo respeitoso. Mais que conviver, ajudar-se mutuamente. Mercados e governos não podem ser parasitas uns dos outros, mas parceiros de um mesmo futuro. Fáceis palavras, difícil execução.
Um comentário:
O "camarada" não trouxe nada de novo, pelo menos não consegui perceber no texto. Continua a ladainha "neoliberal" (terminologia usada por mim sem querer qualquer motivação ideológica).
Boaventura de Souza Santos no "Globalização: fatalidade ou utopia?" já apresentava os elementos do movimento neoliberal globalizante nos exatos termos usado pelo autor. O "povo" não aprende!
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