sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Reportagens provocantes: Desigualdade social no Brasil não diminuiu na década

Texto "Queda de desigualdade na década é lenda", de Clóvis Rossi, publicado hoje, 10/8/2010, na FSP, faz uma alerta muito sério: na última década caiu a desiguldade entre os trabalhadores, mas a disparidade de renda entre capital e trabalho aumentou:

A parte da renda do conjunto dos verdadeiramente ricos afasta-se cada vez mais da condição do trabalho, para aliar-se a outras modalidades de renda, como aquelas provenientes da posse da propriedade (terra, ações, títulos financeiros, entre outras)", diz [Marcio Pochmann}.

Outro economista do Ipea, João Sicsú, fez, também antes de ser contratado pelo instituto estatal, a seguinte comparação:

"Em 2006, o governo federal pagou R$ 163 bilhões de juros para os detentores da dívida pública federal. Aproximadamente 80% desse valor é apropriado por 20 mil famílias -que fazem parte da elite brasileira. Enquanto isso, em 2006, dezenas de milhões de pessoas pobres foram atendidas pelos programas de assistência social do governo federal com apenas R$ 21 bilhões."

Como é possível diminuir a desigualdade se 20 mil famílias recebem do governo seis vezes mais do que o que vai para as 12 milhões de famílias beneficiadas pelo Bolsa Família?

De acordo com] informação (do IBGE), a renda média do trabalho em 2009 ainda era inferior à de 1996. Alguém acredita que a renda do capital no período tenha caído, como caiu a do trabalho, ou tenha ficado estagnada?

Sepultemos, pois, de vez a lenda e usemos as palavras certas: caiu a desigualdade entre assalariados, mas não caiu a obscena desigualdade entre renda do trabalho e renda do capital.

Faz sentido, mesmo considerando o levantamento da Fundação Getúlio Vargas (FGV) ,baseada nos dados da última Pesquisa Nacional de Amostragem por Domicílio (PNAD). Segundo o estudo, a classe média brasileira, identificada com a classe C, chegou a 50,5% da população no Brasil em 2009. Nada menos que 29 milhões de pessoas entraram na classe C entre 2003 e 2009, um crescimento de 34,3%. Entretanto, a classe A cresceu no período 40,9% e a classe B 38,5%.

Não deixa de ser relevante, por outro lado, que, em 2009, um milhão de pessoas conseguiram escapar da linha da pobreza e três milhões de pessoas ingressaram na classe C vindo, principalmente, das classes D e E, que, por sua vez, encolheram 3% e 4,3% respectivamente. O aumento da renda das pessoas da classe C foi de 7,29% em 2009. O país conseguiu no ano passado o menor índice de Gini desde a década e 1960: 0,5448,.

As classes são divididas em faixas de renda domiciliar per capita. A classe E é formada por pessoas que ganham até R$ 705. A classe D vai de R$ 706 a R$ 1.125. A classe C de R$ 1.126 a R$ 4.854. A classe B de R$ 4.855 a R$ 6.329 e, na classe A, estão os que ganham mais de R$ 6.330.

Os resultados são vistosos, mas as conclusões de Rossi são também verdadeiras. Crescemos na base da pirâmide. Mas ela continua pensa no vértice superior. Poucos continuam a ganhar muito mais do que muitos.

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