quinta-feira, 21 de abril de 2011

Inside Job e a naturalização da injustiça

“Inside Job” [Trabalho 'Inteno'] é um documentário muito bom, mas com um potencial defeito: induzir-nos duas reações terríveis. Uma, nacionalista, a lamentar que tenha tirado o Oscar das mãos do lixo carioca, enlatado para gringo, é verdade, mas também um grande documentário. Um "Lixo Extraordinário". A outra reação é, todavia, mais grave.

Podemos terminar de ver o documentário com a sensação de que vivemos ainda em sociedade de castas ou de estados. E não podemos mudar o destino das coisas. Há os que nascem, vivem e morrem para trabalhar e se submeter aos rigores da lei, enquanto outros vêm ao mundo para fazer o que bem quiserem, furtando-se às consequências negativas de seus atos.

Uns são corpos e almas à disposição dos comandos e das normas. Outros são seres indiferentes às ordens morais e jurídicas. E imunes às suas penalidades. Podemos adotar duas atitudes em relação a essa injustiça natural. Uma é acreditar nas sanções espirituais. E nos conformarmos. Há um Deus que a tudo vê e, no juízo final, apurará as contas de cada um.

A segunda é professarmos outra crença: a de que poderemos ser um deles. Passaremos a vida a imitá-los, bajulá-los e defendê-los. Serviçais de seus prazeres, não custaremos a encontrar a saída. Dolorosa saída. Sequer cheiraremos o mesmo pó e, ainda por cima, pagaremos por tráfico. Sem direito de defesa.

Mas o documentário tem uma virtude poderosa. Não se trata apenas de apontar o cinismo do sistema capitalista ou a promiscuidade entre o poder político e o poder econômico. Há algo de revolucionário em seu final. Instigar-nos a um inside job mais proveitoso: em que mundo vivemos, convertidos, convencidos ou acomodados. E o que podemos e devemos fazer para mudá-lo.

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