“Que horas são senhor?” E o transeunte responde: “São horas de ser honesto”. Esse pequeno diálogo ocorre entre dois personagens Shakespearianos durante um encontro casual em plena rua. Na realidade, um está dando bom dia para o outro. A questão é que Shakespeare nunca descreve os acontecimentos de maneira direta, simplista. Ele prefere falar por metáforas.
Esse “bom dia” inusitado soa como uma bofetada em nossas consciências e nos convida a uma reflexão sobre a ética e a moral. Também essa é a pergunta que a grande maioria do povo brasileiro se faz todos os dias: onde estão os homens honestos do Brasil?
Depois do escândalo do Senado, em que foram comprovadas fraudes terríveis com provas irrefutáveis e ninguém foi punido - pelo contrário, os acusados receberam solidariedade - a amoralidade foi oficialmente instalada no Brasil. Uma espécie de licença de improbidade foi chancelada. Os claramente culpados, hoje, acusam a Imprensa de tentar desestabilizar as instituições democráticas e os envolvidos no esquema que não detinham mandato popular já estão buscando um.
Todos os dias uma fraude aparece. As denúncias que nos chegam pela Imprensa, frutos do trabalho do Ministério Público, crescem em grande profusão e são todas muito bem fundamentadas, eivadas de provas. As ONGS internacionais de Direitos Humanos têm se debruçado sobre o problema e no ranking das nações mais corruptas do mundo o Brasil ocupa “honrosa” colocação, ficando vergonhosamente ao lado dos pobres países da África. Por quê?
Não existe honra nos trópicos? A lisura é um privilégio dos países frios? Da Escandinávia, Inglaterra, Austrália, Canadá? O que acontece com o Brasil? É por que somos um país de mestiços colonizados por Portugueses, um dos primos pobres da Europa, como dizem por aí? Não, claro que não. A herança católico-portuguesa é, de fato, pesada, porém, na verdade, todas essas teses sobre clima, etnia, raça, trópicos caíram por terra, não valem mais.
As teses caem, mas a corrupção não acaba, diz o povo; não arrefece, não para de crescer e é como uma peste, se alastra, destruindo o tecido do Estado. E como não há punição para os culpados, ocorre uma inversão de valores. Os homens de bem passam a ser vistos como tolos e covardes e os corruptos como bem sucedidos e corajosos.
E como todo vício, a corrupção nunca é moderada, tudo é estratosférico, exagerado. Os valores surrupiados são na casa dos milhões. No entanto, ninguém é preso ou condenado. Pelo contrário, os defensores da sociedade são criticados por suas ações, sendo chamados de apressados, partidários, irresponsáveis, inconsequentes e outros adjetivos. E o pior, essas críticas partem do próprio presidente do Supremo Tribunal Federal. Como pode ser isso?
O grande problema do Brasil está localizado em suas cortes superiores que lavaram as mãos diante da iniqüidade. Ninguém está aí pra nada. A justiça está subordinada a política. Se não há punição, por que não delinqüir? A nós, cabe se lastimar e sofrer a dor. Aos corruptos, sorrir e gastar dinheiro. Mas, como disse Samuel Johnson, chamado carinhosamente pelos ingleses de Dr. Johnson: “a mente só repousa na solidez da verdade”. Enquanto houver inquietude há esperança! Os homens de bem logo aparecerão!
Postador por Theófilo Silva, Presidente da Sociedade Shakespeare de Brasília e Colaborador da Rádio do Moreno
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