Não sei se Ciro Gomes já leu Coriolano, uma das peças políticas de Shakespeare. Se não o fez, está na hora de fazê-lo! Ciro Gomes tem muito da natureza de Caio Márcio Coriolano, general romano de família nobre, favorito da mamãe, orgulhoso, soberbo, valente e virtuoso. E mais, carrega o coração na boca. Fala o que pensa. E é essa língua que acaba por destruí-lo.
Ciro Gomes vem de uma família de classe média, seu pai foi prefeito de Sobral, uma tórrida cidade no sertão do Ceará, famosa pelo orgulho de seus moradores. A cidade tem um lado folclórico: a fama de ser “americana”, dado a admiração que seus filhos têm pelos EUA e por alguns “hábitos”: o Derby, Beisebol, School Bus.
É difícil um cearense que não aponte os sobralenses como um povo soberbo e, com, com seu senso de humor afiado, chamam Sobral de “United States of Sobral” e 51º estado americano. Dizem que esse “americanismo” seria proveniente de três fatores. Foi em Sobral que Albert Einstein provou a Teoria da Relatividade.
Segundo: até a década de 30 Sobral era a principal cidade do Ceará. E terceiro: que a cidade foi fundada por americanos. Por isso os sobralenses dizem que têm um passado burguês, “aristocrático”.
O fato é que Sobral berço de Renato Aragão, pena com as brincadeiras e gozações de seus conterrâneos, que cunharam centenas de piadas sobre seus cearenses “americanos”. Até onde a soberba de Ciro, que tem lhe custado caríssimo, é fruto disso não sabemos.
O certo é que sua incontinência verbal e seu ar de superioridade estancaram sua vitoriosa carreira política. Ciro, dizem no Ceará, nasceu com “uma estrela na testa”, tão meteórica foi sua ascensão na política.
Com 37 anos, já fora Deputado Estadual, Prefeito de Fortaleza, Governador do Ceará e Ministro da Fazenda. Desdenhou uma vaga certa no Senado e passou um ano na Universidade de Harvard como aluno visitante. Hoje, é detentor de uma oligarquia.
Ciro, chegando tão cedo aonde chegou, estagnou e não conseguiu um “vôo nacional” sólido como queria. Candidato à Presidência da República por duas vezes, teve uma votação apenas simbólica. Foi obrigado a recomeçar, sendo candidato a deputado federal pelo Ceará, obtendo uma votação espetacular.
Ciro pode corrigir seu temperamento? Poderá, como diz Shakespeare em Júlio César, “forjar seu metal”? Refrear sua língua? Ele tem reconhecido seus erros. Arrepende-se das besteiras que disse. Coriolano foi obrigado a “calçar as sandálias da humildade” – um teste obrigatório para tornar-se Cônsul de Roma.
Vestido com roupas humildes, ele teve que sair nas ruas pedindo o voto do povo. Conseguiu após muito esforço, já que, para ele, era um constrangimento misturar-se aos pobres. Instado por seus nobres pares, teve que fazê-lo. Ganhou o cargo de Cônsul, para perdê-lo horas depois, ao responder a provocação de dois tribunos intrigantes.
Ciro precisa provar para a sociedade brasileira que é hoje um homem maduro, que superou seus conflitos juvenis e que seu orgulho de sobralense – de suposta burguesia inexistente, decadente – foi apagado. Que não é marcado por questões com a mãe, como Coriolano – a arrogância da maioria dos homens é fruto do favoritismo materno.
Para que não aja como Coriolano, que disse: “agora que me destes vossos votos, nada mais quero convosco”. Se provar, aí sim, estará pronto para mostrar que o Brasil é bem maior que o Ceará e que poderá fazer pelo país o que todos nós esperamos.
Postador por Theófilo Silva, Presidente da Sociedade Shakespeare de Brasília e Colaborador da Rádio do Moreno
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