Postado por Theóphilo Silva(*)
*Theófilo Silva é presidente da Sociedade Shakespeare de Brasília
Imagem: Gustave Doré (Masterpieces from the Works of Gustave Doré. NY Cassell & Company, Ltd., 1887.jpg)
A condenação definitiva, a 150 anos de prisão, do bilionário financista americano Bernard Madoff por crimes financeiros, que saiu do tribunal algemado, num processo cujo desfecho durou menos de um ano, nos impõe uma série de reflexões acerca da ineficiência da enrolada justiça brasileira, a maioria delas já feitas pela imprensa.
Minha reflexão é recordar algumas figuras quixotescas presentes no cenário brasileiro nos último vinte anos – que eu me lembro -, aquelas marcadas por um fato: revolta e coragem diante da corrupção e da impunidade. Aqueles cidadãos pacatos – com algo de Hamlet - muitas vezes puros, colocados pelo destino diante de verdades lamentáveis. E dos funcionários públicos encarregados de alguma investigação contra um corrupto poderoso.
Aqueles servidores que “passam dos limites”, “agem fora de sua jurisdição” sendo chamados de loucos por acelerarem os lentos e ineficientes passos da justiça. Todos nós crescemos ouvindo o discurso de Rui Barbosa citado por nossos avós: “de tanto ver prosperar a desonra...”. Falo desses Quixotes, que diante de atos desonestos agem de forma surpreendente, enfrentando culpados poderosos pegos “com a mão na botija”.
Esses sujeitos meio loucos, meio heróis, de 1990 para cá: Takeshi Imai, Eriberto França e o caseiro Francenildo; funcionários federais, como: Luiz Francisco, Sílvio Marques, Fausto de Sanctis e o que está na berlinda, delegado Protógenes, todos que de uma forma ou de outra alteraram os rumos da história por força de sua indignação e de suas ações.
Homens que, como diz o duque de Milão, em Como Gostais, peça de Shakespeare: “usam a loucura como disfarce de caçador, para disparar seus tiros...” Suas personalidades são distintas.
Takeshi, Eriberto e Francenildo são gente do povo que num momento de provação demonstraram indignação e patriotismo. Sílvio Marques é o único em que não há “loucura”, mas simplesmente coragem.
Esse promotor juntou várias toneladas de provas contra Paulo Salim – deixou-o preso por 45 dias -, figura que reputo como a mais repugnante de toda a história do país, mais até que Joaquim Silvério dos Reis. Um atestado vivo da inexistência de justiça no Brasil.
O procurador de fala mansa e tímida, Luiz Francisco, criou um pandemônio na vida de muitos corruptos, mesmo que os holofotes o tenham cegado um pouco. Já o juiz Fausto de Sanctis teve a coragem de trombar com a figura pública mais detestada do país, o presidente do STF, Gilmar Mendes, sendo duramente perseguido por isso.
Todos eles granjearam a simpatia da sociedade e dos homens de bem deste país. Seus atos os tornaram uma espécie de Quixotes lutando com os moinhos, e na sua busca por justiça podem ter exagerado, e por isso tiveram suas vidas desmanteladas. Um ou outro errou, mas o legado é positivo. Não são heróis nem loucos: são homens indignados.
Resta-lhes um consolo vindo também de um simples mensageiro do rei Henrique VI, na peça homônima do nosso amigo Shakespeare: “Diante de muitos golpes de uma machadinha, o mais possante carvalho oscila e acaba vindo ao chão”. Vida longa aos Quixotes!
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