Foi sem adeus. Mas para que dizer adeus? Apenas o corpo frágil do homem pereceu. A imortalidade, longe dos roupões da Academia, está na capacidade de se eternizar no texto e deixar-se nos genes incompreensíveis da memória. A influenciar jeitos, gestos e letras. A vida simplesmente se repete entre a realidade e a ficção. Às vezes, era insidiosamente bíblico:
A pena pior, minha filha, não é a que se sente no momento, é a que se vai sentir depois, quando já não houver remédio, Diz-se que o tempo tudo cura, Não vivemos bastante para tirar-lhe a prova (A Caverna). E atual:
Cegueira também é isto, viver num mundo onde se tenha acabado a esperança (Ensaio sobre a Cegueira). Como se justificasse a sua passagem sem despedida, escreveu:
o trabalho que deixou de ser o que havia sido, e nós, que só podemos ser o que fomos, de repente percebemos que já não somos necessários no mundo (A Caverna).
Um cético em vista dos políticos:
Há sempre um zarolho ou um esperto que nos governa. Um cético em relação às religiões:
As religiões, todas elas, por mais voltas que lhes dermos, não têm outra justificação para existir que não seja a morte, precisam dela como do pão para a boca. (...) Tem razão, senhor filósofo, é para isso mesmo que nós existimos, para que as pessoas levem toda a vida com o medo pendurado ao pescoço e, chegada a sua hora, acolham a morte como uma libertação, (...) Não foi o que nos habituaram a ouvir, Algo teriamos que dizer para tornar atractiva a mercadoria, Isso quer dizer que em realidade não acreditam na vida eterna, Fazemos de conta (As Intermitências da Morte). Um cético para a verdade:
Homem, não tenhas medo, a escuridão em que estás metido aqui não é maior do que a que existe dentro do teu corpo, são duas escuridões separadas por uma pele, aposto que nunca tinhas pensado nisto, tranpostas todo o tempo de um lado para outro uma escuridão (...), meu caro, tens de aprender a viver com a escuridão de fora como aprendeste a viver com a escuridão de dentro (As Intermitências da Morte).
Mas era ainda m otimista em relação à emancipação humana:
Nem a arte nem a literatura têm de nos dar lições de moral. Somos nós que temos de nos salvar, e isso só é possível com uma postura de cidadania ética, ainda que isto possa soar antigo e anacrónico Romances
Terra do Pecado, 1947
Manual de Pintura e Caligrafia, 1977
Levantado do Chão, 1980
Memorial do Convento, 1982
O Ano da Morte de Ricardo Reis, 1984
A Jangada de Pedra, 1986
História do Cerco de Lisboa, 1989
O Evangelho Segundo Jesus Cristo, 1991
Ensaio Sobre a Cegueira, 1995
Todos os Nomes, 1997
A Caverna, 2000
O Homem Duplicado, 2002
Ensaio Sobre a Lucidez, 2004
As Intermitências da Morte, 2005
A Viagem do Elefante, 2008
Caim, 2009
Peças teatrais: A Noite/Que Farei com Este Livro?/A Segunda Vida de Francisco de Assis/In Nomine Dei/Don Giovanni ou O Dissoluto Absolvido
Contos: Objecto Quase, 1978/Poética dos Cinco Sentidos - O Ouvido, 1979/O Conto da Ilha Desconhecida, 1997
Poemas:Os Poemas Possíveis, 1966/Provavelmente Alegria, 1970/O Ano de 1993, 1975
Crónicas:Deste Mundo e do Outro, 1971/A Bagagem do Viajante, 1973/As Opiniões que o DL Teve, 1974/Os Apontamentos, 1977
Diário e Memórias:Cadernos de Lanzarote (I-V), 1994/As Pequenas Memórias, 2006
Infantil: A Maior Flor do Mundo, 2001
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