Carl Schmitt é visto, geralmente, como um constitucionalista e cientista político conservador e até autoritário. Essa visão impede a muitos de conhecer a obra de um dos maiores pensadores políticos do Século XX. Aliás, não precisamos concordar com as ideias dos autores muito menos criticá-las sem antes conhecê-las diretamente. É comum se formarem opiniões de segunda ou terceira mão. A cultura do Apud é uma tragédia para a inteligência.
Pois acaba de sair em inglês pela Telos [há outra versão de 2006 pela Plutarch], e, pelas informações, existem negociações para sua tradução em português, o livro "Hamlet or Hecuba: The Intrusion of the Time into the Play" [Hamlet ou Hécuba: A Invação do Tempo na Peça], escrito por Schmitt em 1956.
A análise da tragédia de Shakespeare toma o pano-de-fundo histórico de sua criação tanto para explicá-la (para os puristas: compreendê-la), quanto para demonstrar o talento shakespeareano em captar as visões de mundo de seu tempo. Os conflitos da realeza e a figura obsessiva do vingador, segundo Schmitt, servem de elementos míticos e políticos que serão utilizados na formulação da teoria moderna de representação política. Arte, cultura e política estão mais ligadas do que pensam nossos mais sinceros constitucionalistas.
E merece conferida.
Um comentário:
Dica anotada. E verdade. O universo do direito por vezes se fecha em si mesmo e sua lógica. Acabamos negligenciando outras fontes e abordagens e empobrecendo nossa prática com isto.
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