Muita gente já chamou o século XX, o século das utopias negativas. Fascismo, Comunismo e Nazismo não passaram de um sonho de uma sociedade ideal que acabaram em regimes totalitários, provocando dor e extermínio.
Em 1606, com 42 anos de idade, Shakespeare não precisava escrever mais nada, ele já tinha nos dado Hamlet, Rei Lear, Othelo, Macbeth e mais 26 peças teatrais. Cansado do mundo, resolveu criar um, onde sua imaginação poderia correr livre e sem peias. Escreve quatro peças, intituladas de Romances: Péricles, Conto de Inverno, Cimbelino e A Tempestade.
A que nos interessa aqui é a insólita A Tempestade, o mundo de Próspero, Duque de Milão banido do trono. Shakespeare com certeza leu A Utopia, de Thomas Morus, livro que serviu como fonte de inspiração para muitos proponentes de uma sociedade ideal. Séculos depois, Aldous Huxley escreveu sua utopia, Admirável Mundo Novo.
Esse título é uma frase de Miranda, a filha de Próspero. Bem, Próspero vive numa ilha onde controla tudo com seus poderes mágicos. Os habitantes são: ele mesmo, sua filha, o gênio alado Ariel e o bronco Caliban, servos que tudo fazem pra ele. Próspero é todo poderoso e nada foge a seu controle.
Lá todos os seus desejos são realizados. Já velho e precisando voltar pra casa, Próspero resolve trazer seus amigos e inimigos ao encontro dele. Daí, casa sua filha com um príncipe, liberta seus servos, faz as pazes com seus adversários, pune quem deve punir, enfim faz tudo que deseja fazer. Karl Marx adorava A Tempestade e tirou de lá a célebre frase: “tudo que é sólido se desmancha no ar”.
Cito A Tempestade por ser uma peça que trata de um reino utópico. Utopia é uma palavra bela e perigosa que está voltando à moda. Está surgindo como reação à brutal crise moral e ética por que passa o país nesse momento. Que não há justiça no Brasil, já sabemos! Ela alcança apenas os cidadãos desprovidos de poder político e econômico.
Uma perversa elite de menos de 0,1% da sociedade vive acima da lei, sem sofrer qualquer tipo de punição. A única pena é a conta do advogado. Portanto, dessa instituição, poder judiciário, não podemos esperar nada.
O nível de desmoralização que chegou o Senado do Brasil não tem paralelo em nenhum outro lugar do mundo civilizado. E pior, com a contribuição de Lula, o Presidente da República que, em nome da governabilidade não diz uma palavra de reprovação a essa gente, pelo contrário, as apóia.
O comportamento de alguém que se dizia portador de uma utopia está mergulhando o país num mar de imoralidade e frouxidão ética. Eis o perigo das chamadas utopias e seus utopistas, em sua maioria, puristas ou demagogos. Precisamos ter os pés no chão. Noções etéreas levam ao desconhecido.
Lembremo-nos da transformação das utopias em formas de governo a partir da segunda década do século XX e o horror que se seguiu dali. A reação à imoralidade deve apresentar outro estofo, não esse! Utopias, apenas em nossa imaginação, na arte ou na vida privada. Quem pretende implantar utopias que vá para a ilha de Próspero, saia do mundo, crie uma só pra si!
Postado por Theófilo Silva, Presidente da Sociedade Shakespeare de Brasília e colaborador da Rádio do Moreno.
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