quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Suprema Corte dos EUA é a mais moderada em décadas

Em 24/7/2010, o New York Times publicou um longo artigo escrito por Adam Liptak, intitulado de “A Corte sob o comando de Roberts é a mais conservadora em décadas.” Liptak argumenta que a Suprema Corte, sob o comando do Presidente Roberts, se tornou a mais conservadora de que se possa lembrar. Esse artigo merece um comentário longo. O artigo de Liptak exagera o pretenso conservadorismo da Corte sob o comando de Roberts e, baseado nos dados apresentados, poderia ter facilmente rotulado a referida Corte como a “mais moderada” ou “menos ativista” que se possa lembrar. Resumindo, existe menos no artigo do que os olhos podem ver.

A principal alegação do autor é baseada na ciência política, mostrando que a Corte sob o comando de Robert é mais propensa a proferir decisões “conservadoras” do que seus antecessores. Liptak relata: "Nos seus primeiros cinco anos, a Corte proferiu decisões conservadoras em 58% das vezes. E no último trimestre do ano passado, a taxa subiu para 65%, o maior número em anos, pelo menos desde 1953".

A recente mudança para a direita é modesta. As decisões da Corte dificilmente têm sido uniformemente conservadoras. Os Ministros, limitaram, por exemplo, a aplicação da pena de morte e rejeitaram amplas reivindicações do poder executivo no esforço do governo em combater o terrorismo.

Mas estudiosos que observam as tendências gerais, ao invés das decisões individuais, dizem que dados amplamente aceitos pelos cientistas políticos contam uma inequívoca história acerca de uma Corte notadamente conservadora. Em outro ponto do artigo, Liptak escreve “o ritmo de mudanças tem sido vertiginoso” desde que os Ministros Roberts e Alito se juntaram à Corte, mas também que “a mudança para a direita é modesta”.

Supondo que a definição do que sejam decisões “conservadoras” ou “ liberais” seja precisa, esta metodologia identifica a tendência das decisões, mas necessariamente também identificará quais tribunais seriam os mais conservadores? Depende do que se está querendo dizer.

Um tribunal que, mais frequentemente, profere decisões conservadoras não necessariamente “desloca” a aplicação da lei para a direita mais do que um outro que tenha registros mais liberais (um ponto que Liptak reconhece). Isso porque uma decisão “conservadora” pode ser aquela que anula ou modifica precedentes para deslocar a aplicação da lei para a direita, mas também pode ser nada mais do que uma decisão que recusa abarcar uma mudança liberal na lei.

Uma Corte na qual o último tipo de decisão é predominante, o que pode ser chamado de uma Corte conservadora “minimalista”, poderia ser identificada como sendo mais “conservadora” do que uma Corte em que grande parte das decisões proferidas é liberal, mas que, quando profere decisões conservadoras, está mais propensa a anular precedentes ou a mudar a lei. Dessa forma, o tribunal mais conservador teria um papel menor em tornar a lei mais conservadora. Como pontuei anteriormente, existe, também, uma importante diferença entre uma decisão judicial que, digamos, identifica uma nova limitação constitucional com relação ao poder legislativo e outra que adota uma interpretação regulamentar moderada, uma vez que a última é bem mais deferente para as instituições políticas, sendo mais fácil sua correção.

Esta distinção é importante devido ao fato de que os dados apresentados por Liptak sugerem que a Corte sob o comando do Justice Roberts é “minimalista conservadora”. Na realidade, a referida Corte parece ser a mais moderada – ou menos “ativista” (se ativismo for definido como a vontade de anular estatutos federais ou precedentes) - desde a Segunda Guerra Mundial. De acordo com os dados apresentados no artigo referido, as Cortes sob o comando de Warren, Burger e Reqhnquist anularam precedentes com taxas médias de 2.7, 2.8 e 2.4 por trimestre, respectivamente. A Corte sob o comando de Roberts, por outro lado, somente anulou em média 1.6 precedentes por trimestre.

Os registros referentes a leis invalidadas mostram uma padrão similar. Os tribunais sob o comando de Warren, Burger e Rehnquist invalidaram em média 7.9, 12.5 e 8.2 leis por trimestre, respectivamente, ao passo que o tribunal presidido por Robert somente invalidou uma média de 3 leis por trimestre. Liptak citou estes dados no final de seu artigo, mas os subestima com a seguinte descrição: “A corte sob o comando de Robert está declarando leis como sendo inconstitucionais e revertendo precedentes – duas medidas de ativismo – não mais frequentemente do que tribunais prévios.”

Dessa forma, enquanto a maioria de decisões da referida Corte são “conservadoras”, os dados que Liptak resume não parecem ter resultado em um regime legal mais conservador, uma vez que a Corte fez relativamente pouco para mudar a lei (pelo menos até agora) comparada com a de seus antecessores. Isso é importante porque efetivamente refuta as alegações de que existe algo particularmente radical ou “ativista” acerca do Tribunal presidido por Robert, mesmo que se aceite que seja notadamente “conservador”.

Se Liptak tivesse se engajado em um exame substancial das decisões da Corte em questão, ele teria encontrado um padrão similar na maioria das áreas, sendo alguns aspectos de processo penal a exceção. Como mostrei nesse artigo, em muitas áreas bastante discutidas, a essência das opiniões da Corte presidida por Roberts não é mais conservadora do que as da Corte presidida por Rehnquist. Em relação ao aborto, por exemplo, a decisão proferida no caso Gonzales v. Carhart de 2007 é mais conservadora do que no caso Stenberg v. Carhart, de 2000, mas Stenberg possivelmente representou uma mudança para a esquerda se comparado a Casey e Carhart, que havia meramente alterado a lei no sentido como era anteriormente. Parents involved e Ricci podem parecer mais conservadoras do que Grutter, porém, não são mais restritivas do que Croson e Adarand.

Não existe evidência, até o momento, de que a Corte presidida por Roberts esteja querendo desafiar o poder federal tanto quanto a Corte presidida por Burger (National League of Cities v. Usery) ou por Rehnquist (Lopez, Morrison, Boerne). Existem exceções, tais como algumas das decisões da Corte sobre os "direitos de Miranda" - que certamente fizeram a lei menos protetora a suspeitos e réus criminais – e como Citizens United, mas estas exceções são balanceadas pelas agressivas opiniões liberais em áreas relacionadas ao poder executivo e à pena de morte. Em suma, mesmo que a maioria das decisões da Corte seja “conservadora”, uma análise substancial das decisões da Corte em questão não revela uma mudança na lei para a direita.

O artigo atribuiu a mudança para a direita do Tribunal às mudanças de pessoal, em particular à substituição da Ministra O´Connor pelo Ministro Alito. Existe pouca controvérsia no fato de que o Ministro Alito era notadamente mais “conservador” do que a Ministra O´Connor à época de sua aposentadoria. Isto é importante porque, por muitos anos, a Juíza O´Connor foi a Juíza moderada (median Justice). Substituí-la poderia não ajudar, mas acarretaria uma mudança no Tribunal. Mesmo assim, a substituição pelo Ministro Alito não tornou a Corte significativamente mais conservadora do que foi há uma década, principalmente pelo fato de a jurisprudência da Ministra O´Connor ter se “desenvolvida” em uma direção visivelmente mais liberal durante seu exercício (o que também aconteceu com os Ministros Kennedy e Stevens, como mostra o trabalho de alguns dos estudiosos que o próprio Liptak se baseou para escrever seu artigo).

Como consequência, a Corte presidida por Rehnquist seguiu em direção da esquerda, mesmo quando não houve alteração em seu quadro de pessoal, e tornou-se mais esquerdista quando o Ministro Ginsburg substituiu o Ministro White. Dessa forma, dizer que a Corte é agora mais conservadora do que, digamos, era em 2001, nos diz muito pouco acerca de sua trajetória ideológica como um todo.

Curiosamente, qualquer mudança para a direita não deixou a Corte em menor sintonia com o público americano. Como Litak relata: "Enquanto a Corte é um tanto quanto conservadora por padrões históricos, é menos conservadora, se analisada em relação a padrões contemporâneos. Pesquisas da opinião pública sugerem que cerca de 30% dos americanos acham que a corte atual é muito liberal e quase metade acha está na direção certa".

Em certas questões legais, também, as decisões do tribunal estão, com frequência, intimamente alinhadas com a opinião pública, ou mais liberais, de acordo com estudos realizados em 2008 em Public Opinion e Constitutional Controversy” (Oxford University Press).

Liptak aponta a questão do aborto e das ações afirmativas como áreas nas quais a Corte está alinhada com a opinião pública. Ele também poderia ter falado do poder executivo, da pena de morte e de outras áreas nas quais a Corte está ainda à esquerda do público.

E a questão da metodologia subjacente? Podemos realmente descrever todas as opiniões como sendo “conservadoras” ou liberais? Segue a descrição da metodologia feita por Liptak: "Votos que favorecem réus criminais, sindicatos, pessoas que reclamam de discriminações ou violações de seus direitos civis são, por exemplo, considerados liberais. Decisões que derrubam regulamentações de natureza econômica e favorecem promotores, empregadores e o governo são consideradas conservadoras"

Cerca de 1% dos casos não possui nenhuma valência ideológica, como em uma disputa de fronteiras por dois Estados. E alguns dizem respeito a múltiplas questões ou contêm correntes ideológicas cruzadas. Mas, enquanto é fácil identificar o caso especial para o qual a codificação ideológica não faz nenhum sentido, a grande maioria se encaixa bem. Eles também tendem a se alinhar aos votos dos juízes que geralmente são considerados liberais ou conservadores.

Esta metodologia é certamente de fácil aplicação na maioria dos casos contemporâneos, mas existem áreas nas quais sua aplicação se torna difícil. Imagine os sentencing cases, Qual lado é “conservador”? E a preempção? Geralmente pensamos em preempção como sendo algo defendido por corporações e, sendo, assim, algo conservador, mas e se for aplicada a casos envolvendo as leis imigratórias do Arizona? E em relação à cláusula dormant commerce? Seria a postura “conservadora” aquela que afasta as obstruções do Estado ao comércio interestadual? Ou seria aquela que adota uma visão mais moderada dada a proveniência textual incerta da doutrina?

Casos que obviamente tinham uma valência ideológica à época, podem não parecer tão claros com o passar do tempo. Ricci v. DeStefano foi uma decisão “contra os empregadores” e “contra o governo” favorecendo às “pessoas que alegavam discriminação”, e, mesmo assim, a consideraríamos “conservadora” por padrões contemporâneos. Mas um estudante de graduação em ciência política poderia não considerar a decisão “conservadora”. O mesmo pode se aplicar no caso Comstock, no qual a Corte manteve o poder federal contra contestação de réus federais. Isto a torna conservadora? Eu não acredito. Minha opinião não é a de que coding cases são indeterminados, mas que tentar manter uma métrica ideológica consistente com o passar do tempo por meio de regras codificadas pode ser muito difícil, e não creio que tais análises nos dão uma entendimento inequívoco de que, digamos, o Ministro Hugo Black é mais ou menos “conservador” do que o Ministro Kennedy.

Uma consideração final: dizer que a Corte é mais “conservadora” ou mais liberal é não analisar a qualidade do trabalho da Corte ou a assertividade de suas decisões. Acredito que a Corte é muito liberal em algumas áreas e muito conservadora em outras. E simplesmente assertiva em outras. Meu interesse por esse assunto surgiu de minha frustração pela pressa com a qual alguns caracterizam o trabalho da Corte, abarcando termos ideológicos e pelo que percebo ser um esforço um tanto quanto persistente em rotular a Corte como ideologicamente “conservadora”, especialmente quando tais rótulos não descrevem acuradamente o trabalho dela. Pelo menos, até o momento.

Artigo de Jonathan Adler, publicado em The Volokh Conspiracy. Trad. Virginia Rosa Rodrigues Astolfi

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Brasil faz 69 em corrupção

O relatório anual da ONG Transparência Internacional, divulgado nesta terça-feira, indica que a percepção de corrupção no setor público do Brasil se manteve inalterada desde o ano passado, embora o país tenha subido em um ranking sobre o tema. A pontuação dada ao país no relatório permaneceu a mesma de 2009 - 3,7 numa escala de zero a dez, em que dez indica que os servidores são percebidos pela população como pouco corruptos e zero corresponde à percepção de corrupção disseminada.

O Brasil ocupava no ano passado o 75º lugar entre 180 países no Ranking de Percepção da Corrupção da Transparência Internacional. Na lista deste ano, em que foram relacionados apenas 178 países, o Brasil ocupa a 69ª posição, juntamente com Cuba, Montenegro e Romênia. Dinamarca, Nova Zelândia e Cingapura, dividem a primeira colocação, com 9,3 pontos.

O ranking da TI mede a percepção de corrupção nos setores públicos dos países, a partir de avaliações de fontes como fundações, ONGs, centros de estudos e bancos de desenvolvimento. A subida do Brasil no ranking seria apenas um reflexo da deterioração de outros países e não deve ser interpretada como um avanço do país, explicou à BBC Brasil Alejandro Salas, diretor regional para as Américas da Tarnsparência Internacional. (BBC Brasil).

Ranking de Percepção da Corrupção 2010 - Destaques

1) Dinamarca, Nova Zelândia e Cingapura - nota 9,3

4) Finlândia e Suécia - nota 9,2

17) Barbados - nota 7,8

20) Reino Unido - nota 7,6

21) Chile - nota 7,2

22) Estados Unidos - nota 7,1

24) Uruguai - nota 6,9

25) França - nota 6,8

30) Espanha - nota 6,1

31) Portugal - nota 6,0

69) Brasil - nota 3,7

105) Argentina - nota 2,9

146) Haiti - nota 2,2

164) Venezuela - nota 2,0

175) Iraque - nota 1,5

176) Afeganistão e Mianmar - nota 1,4

178) Somália - nota 1,1

Reflexões eleitorais sobre a soberania popular

O povo é sábio. Afirmação de caráter normativo ou contrafactual que nem sempre aparece confirmado na prática. Até por que a democracia é um processo de aprendizagem. Para aprendermos, temos de refletir sobre cada etapa. Pois é para esse fim que recolho algumas observações feitas pela imprensa sobre as últimas eleições.
I - Ficha Suja
Mais da metade dos 513 deputados federais conseguiram se reeleger no último dia 3 de outubro, mas parte deles responde a processos na Justiça por suspeita de corrupção passiva, formação de quadrilha e estelionato, entre outros crimes. Dos 275 parlamentares reeleitos, pelo menos 65 respondem a ações no STF (Supremo Tribunal Federal), aponta levantamento do site Congresso em Foco.
Desse grupo, os cinco mais votados são: Paulinho da Força (PDT-SP), com 267.208 votos, seguido de João Paulo Cunha (PT-SP), com 255.497 votos, Wladimir Costa (PMDB-PA), com 236.514 votos, Emanuel Fernandes (PSDB-SP), com 218.789 votos, e Valdemar Costa Neto (PR-SP), com 174.826 votos.
A lista não leva em conta os deputados barrados pela Lei da Ficha Limpa, como Paulo Maluf (PP-SP), Natan Donadon (PMDB-RO) e Pedro Henry (PP-MT). Os três dependem de decisão da Justiça para assumir o cargo. A nova lei impediu que políticos condenados por um órgão colegiado (mais de um juiz) disputem a eleição.
Lei na íntegra
II - Política em família
Entre os candidatos mais votados nas eleições para deputado federal, estão filhos, pais ou demais parentes de políticos tradicionais no país. A repórter Ana Raquel Macedo, jornalista da Rádio Câmara, ouviu especialistas em ciência política a respeito do fenômeno.
Ana Raquel Macedo: Alguns dos campeões de votos nestas eleições para a Câmara dos Deputados carregam o sobrenome de políticos com larga trajetória em seus estados ou em âmbito nacional. Os primeiros colocados em Alagoas, Bahia, Ceará, Pernambuco e Sergipe usam o nome da família. Em Alagoas, o filho do senador Renan Calheiros, Renan Filho,do PMDB, chega ao primeiro mandato como deputado federal com mais de 140 mil votos. Em Sergipe, o filho do senador Antônio Carlos Valadares, Valadares Filho, do PSB, também foi o mais votado, conquistando a cadeira de federal pela segunda vez. Na Bahia, Antônio Carlos Magalhães Neto, do DEM, pela terceira vez, é o deputado mais votado em seu estado. Em Pernambuco, a campeã de votos é a deputada Ana Arraes, do PSB, filha do ex-governador Miguel Arraes e mãe do atual governador Eduardo Campos. No Ceará, Domingos Gomes de Aguiar, do PSB, foi o deputado federal mais votado. Aguiar é filho do atual presidente da Assembleia Legislativa do Ceará e vice-governador eleito, Domingos Filho, e da secretária de Turismo de Fortaleza e ex-prefeita de Tauá, Patrícia Aguiar. Professor da Universidade de Brasília, o cientista político Otaciano Nogueira destaca que não é de hoje que o sobrenome representa um capital político importante.
Otaciano Nogueira: Na política, um sobrenome bem conhecido e avaliado é o maior patrimônio que um candidato pode desejar. Se ele é filho de alguém que deu alguma grande contribuição, sempre será lembrado pelo que o pai fez. No Brasil, há uma série de famílias famosas que se prolongaram ao longo da política. Alguns exemplos do Império. O conselheiro Nabuco de Araújo foi deputado, senador, ministro, presidente do conselho de ministros, tudo que podia ser. E o filho, Joaquim Nabuco. Você não dissocia mais um do outro. E o filho se tornou tão importante quanto pai.
Ana Raquel Macedo: No Paraná, o filho do ex-ministro José Dirceu, Zeca Dirceu, obteve 108.886 votos. Prefeito de Cruzeiro do Oeste por duas vezes, Zeca Dirceu acredita que a maioria de seu eleitorado decorre da sua trajetória política na região.
Zeca Dirceu: Não posso deixar de dizer que o fato de eu ser filho de José Dirceu me traz uma série de credenciais e nos locais mais distantes, onde não era conhecido, acaba me trazendo uma parcela dos votos que eu tive. Mas é inegável que eu tenho história e que tenho votação que é minha, principalmente, aqui no noreste do Paraná, que é a região onde nasci e onde sempre vivi.
Ana Raquel Macedo: A deputada distrital e filha do ex-governador do Distrito Federal Joaquim Roriz, Jaqueline Roriz, se prepara para ocupar uma cadeira na Câmara dos Deputados, para a qual obteve 100.051 votos. Ela acredita que, se o político não tiver uma boa atuação, o nome da família não será suficiente para manter um mandato.
Jaqueline Roriz: O segundo mandato, ou reeleição ou subir um degrau nesse caminho, ele já faz parte de um processo de você como se comportou no primeiro mandato. Porque o eleitor está muito atento, muito politizado, ele não está aceitando qualquer coisa.
Ana Raquel Macedo: O peso de um nome não é levado em conta apenas na política. O professor Otaciano Nogueira lembra que empresários, por exemplo, também costumam seguir a carreira de seus ascendentes. De Brasília, Ana Raquel Macedo.
Alguns exemplos

Em família

» Benedito de Lira (PP-AL): elegeu-se senador e emplacou o filho
Arthur Lira (PP-AL) na Câmara
» Ciro Nogueira (PP-PI): elegeu-se senador e ajudou a mulher, Iracema Portela (PP-PI), a conquistar uma vaga na Câmara
» Kátia Abreu (DEM-TO): elegeu o filho Irajá Abreu (DEM-TO) deputado federal
» Renan Calheiros (PMDB-AL): renovou o mandato e elegeu Renan Filho (PMDB-AL)
» Romero Jucá (PMDB-RR): renovou o mandato no Senado e terá a companhia da ex-mulher Teresa Jucá (PMDB-RR) na Câmara
» Vital Filho (PMDB-PB): elegeu-se senador e contribuiu para a conquista de uma cadeira na Câmara para sua mãe, Nilda Gondim (PMDB-PB)
» Wilson Santiago (PMDB-PB): foi apontado como senador eleito pela Paraíba e ajudou Wilson Filho (PMDB-PB) a conseguir uma vaga na Câmara
» Félix Mendonça (DEM-BA): o deputado elegeu o filho Félix Jr. (PDT-BA)

» Geddel Vieira Lima (PMDB-BA): perdeu a disputa pelo governo da Bahia, mas ajudou a eleger o irmão Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA) deputado federal
» Jerônimo Reis (DEM-SE): teve o mandato de deputado federal cassado, mas elegeu o filho Fábio Reis (PMDB-SE)
» José Dirceu (PT-SP): contribuiu para o filho Zeca Dirceu (PT-PR) se eleger deputado federal

» Nelson Trad (PMDB-MS): o deputado não quis tentar a reeleição, mas garantiu vaga para o filho Fábio Trad
(PMDB-MS) na Câmara

» Virgílio Guimarães (PT-MG): não teve sucesso na disputa ao Senado, mas ajudou o filho Gabriel Guimarães (PT-MG) a ir para a Câmara

Veja ainda:

Parentesco entre políticos é um marco na representação nordestina

A Política Real está atenta e apurou que 19,2% dos 151 deputados federais da bancada nordestina tem alguma relação de parentesco com seus principais apoiadores - seja na condição de sucessão política no cargo ou por conta de um projeto de poder.

III - Donos da mídia

Afiliadas da Globo, da Record, do SBT e da Band e uma série de pequenas rádios são de propriedade de 61 políticos eleitos no último dia 3/10/2010. O patrimônio declarado em empresas de rádio e TV é de cerca de R$ 15 milhões. Na campanha, esses meios de comunicação podem, em tese, ajudar a promover a imagem de seus sócios.

Levantamento da Folha com declarações de bens localizou 91 participações em rádio e TV. Entre elas, o senador José Agripino Maia (DEM-RN) e as famílias de Jader Barbalho (PMDB-PA), Renan Calheiros (PMDB-AL) e José Sarney (PMDB-MA). A lei permite que ocupantes de cargos no Executivo ou Legislativo sejam sócios de empresas de rádio e TV e proíbe que estejam à frente da gestão das emissoras, o que é pouco fiscalizado.

O maior patrimônio declarado é de Júlio Campos (DEM-MT), eleito deputado federal: uma rede de TV de R$ 2,9 milhões. A seguir, vêm os irmãos Roseana (DEM) e Zequinha Sarney (PV). Dos 61 eleitos, pelo menos dois deputados participam da Comissão de Comunicação da Câmara, que aprova as renovações de rádio e TV: Antônio Bulhões (PRB-SP) e Arolde Oliveira (DEM-RJ). Também fazem parte Jader Barbalho e Beto Mansur (PP-SP), que ainda dependem da decisão da Justiça sobre a Lei da Ficha Limpa para ter novos mandatos.

No Maranhão, as quatro maiores TVs estão nas mãos de políticos. A Globo local pertence à família Sarney. A família do senador Edson Lobão é ligada ao SBT. A Record é da família do deputado Roberto Rocha (PSDB), e a Band, ligada a Manuel Ribeiro (PTB), eleito deputado estadual. O ex-presidente do Senado Garibaldi Alves (PMDB) tem participação na rádio Cabugi do Seridó, no Rio Grande do Norte, ligada à família dele. No site da emissora, antes da eleição, havia notícias elogiosas a ele, que se reelegeu.

Para Celso Schröder, presidente da Federação Nacional dos Jornalistas, o lado fiscalizador fica enfraquecido com a ligação com políticos. Leia na íntegra

Deputado dos EUA quer impeachment do Presidente da Suprema Corte

O Huffington Post relata que o deputado Peter DeFazio (D-Ore) está investigando a possibilidade de instauração de processo deimpeachment contra o Presidente da Suprema Corte John Roberts, em resposta à decisão da Corte no caso Citizens United.

“Quero dizer que a Suprema Corte causou um tremendo dano para os Estados Unidos da América”, disse o deputado Peter DeFazio (D-Ore) ao Huffington Post na terça-feira. “Eles fizeram mais para minar nossa democracia com a decisão Citizens United do que todos os Republicanos atuantes no mundo inteiro, nessa campanha. Eles abriram as comportas, e, pessoalmente, estou averiguando possíveis ações para o impeachment do Juiz Roberts por perjúrio ocorrido durante as audiências no Senado, nas quais ele disse que não seria um ativista judicial e que não anularia precedentes.”

Isso é um absurdo. Mesmo acadêmicos liberais que são extremamente críticos em relação ao Juiz Roberts e sobre a suposta mudança da Suprema Corte para a “direita”, reconhecem a sandice da acusação do deputado DeFazio.

“ Isso não é nem cauteloso, nem plausível,” disse Georffret R., professor do Departamento de Direito da Universidade de Chicago, nomeados podem não cometer perjúrio, obviamente, mas, de qualquer forma, nada contido no depoimento de Robert pode ser razoavelmente caracterizados como perjúrio.”

O Professor Michael J. Gerhardt do Departamento de Direito da Universidade da Carolina do Norte acrescentou que Roberts tem, geralmente, respeitado precedentes. Nesse caso, isso poderia ser chamado de questão de juízo, disse ele. “Me parece que um juiz, e no caso, o Presidente da Suprema Corte dos Estados Unidos, tem independência para suas deliberações.”

Existe, também, uma ironia ao se buscar o impeachment do Presidente por sua suposta vontade de anular precedentes, quando a Corte presidida por Robert, até agora, anulou precedentes (e estatutos) em uma percentagem menor do que a de seus antecessores.

Trad. Virginia Rosa Rodrigues Astolfi

Independência do Banco Central para Quem?

Artigo publicado no Constitutional Law Blog, sob o título Fed Independence, Fed Capture, a respeito da independência do Banco Central americano. As reflexões valem também para cá

"Será que o Federal Reserve faria melhor se largasse a sua independência e se tornasse (novamente) mais responsável perante os agentes estatais eleitos? Timothy Canova discute essa questão na The American Prospect Review. Ele conclui que o período de prestação de contas do Fed durante a década de 1940, sob a Presidência de Marriner Eccles, resultou em muito mais sucesso e coordenação da política monetária, independente do setor financeiro.

Casanova escreve que, durante esse período mais responsável, mas transparente e "socialmente neutro", o Fed trabalho em parceria com o Instituto de Administração de Preços (Office of Price Administration) para controlar os gastos do Congresso e as prioridades de financiamento (e não, como agora, para servir aos interesses do setor financeiro a exemplo da recente compra dos seus ativos tóxicos). Como resultado, as taxas de juros não subiram, embora os gastos federais e empréstimos fossem muito maiores do que hoje (em percentagem do PIB). Por quê? Porque, argumenta Canova, o Fed comprou títulos do governo "em quantidade e preço necessários para manter enquadrada a taxa de juros do Tesouro." Resultado: Uma política monetária do Fed que acomodava a política fiscal do Congresso que efetivamente tirou o país da Grande Depressão.

Canova sugere que a independência do Fed em 1951 abriu espaço para a captação do setor financeiro, uma conclusão apoiada por um relatório no mês passado da Reuters intitulado Cozying up to Big Investors at Club Fed. Segundo a reportagem da Reuters, há uma porta-giratória rápida entre o Fed e do setor financeiro que permite muitas vezes um "fluxo de informações de parte a parte e uma baixa de guarda do agentes do Fed com seus ex-colegas e outros contatos próximos do setor privado."

Canova conclui sua obra com este parágrafo:

"Poucos economistas entendem esse período da história do Federal Reserve, que tem sido retirado da maioria dos textos, incluindo livros didáticos de economia como os de Bernanke. Quando o período de Eccles é discutido, costuma ser é julgado como uma anomalia - que infelizmente o foi. A opinião corrente é a de um banco central capturado por interesses financeiros privados, que está perseguindo uma agenda elitista da desregulamentação e austeridade fiscal com salvamentos e bônus para banqueiros. Mas, como mostra a própria história de nossa nação, num dos melhores momentos dos Estados Unidos, ele não se conduziu dessa maneira."