Sherlock Holmes foi protagonista de sessenta contos policiais intricados e misteriosos. A maior parte deles ocorreu em Londres no final do século XIX. Sherlock funcionava como uma máquina de desvendar crimes e solucionou todos os casos em que se meteu.
Trago o detetive inglês de volta, muitas dezenas de anos depois de sua aposentadoria, para discutir um crime que chocou Brasília, a capital federal! Em um dos apartamentos da 113 Sul, umas das mais bem organizadas quadras do Plano Piloto, foram encontrados três corpos: o do rico advogado, ex-ministro do TSE, Guilherme Vilela, o da sua esposa e o da empregada da casa, esfaqueados, apresentando dezenas de perfurações.
Nem os porteiros, nem os vizinhos, viram ou ouviram qualquer coisa no dia do crime. Nenhuma digital, mancha ou algum indício forte foi encontrado no local do crime. Quase um mês depois, os assassinatos continuam sem qualquer solução! Assalto? Vingança? Foi obra de profissionais? Ninguém sabe. O crime é, até o presente, perfeito!
As hipóteses vão se sucedendo e, até agora, nenhuma delas é satisfatória. Familiares, funcionários do escritório do advogado, porteiros, amigos e clientes já foram arrolados como suspeitos, mas nada adveio daí.
A polícia de Brasília conta com os equipamentos de perícia criminal mais sofisticados do mundo, mesmo assim quase nada foi descoberto. A cada dia que passa, um suspeito é inocentado. O mistério permanece.
Sherlock Holmes dizia que: “o crime mais vulgar é frequentemente o mais misterioso, porque não apresenta característica nova ou especial de onde as deduções possam ser tiradas.” Ele conhecia toda a literatura criminal do século. O Crime da 113 Sul não parece ser banal. Tem características diferentes de outros assassinatos envolvendo famílias ou casais.
Matar três pessoas em um simpático apartamento cercado de muitos vizinhos, no coração da capital do país e ninguém ver nada é algo incomum. Sherlock não acreditava de maneira nenhuma no sobrenatural, nem nós e menos ainda a polícia! No entanto, existem três cadáveres pendentes de uma explicação!
Assassinos dispostos a matar por dinheiro não faltam, nem mandantes, como o perverso Ricardo III, da peça de Shakespeare, que pergunta friamente ao cruel James Tyrrel: “Terias coragem de matar um amigo meu?” Ao que Tyrrel, prontamente responde: “Sim, meu Lorde, mas preferiria matar dois inimigos”. Mais solícito impossível!
O caso da 113 Sul tem tudo para se transformar numa novela policial semelhante às de Sherlock Holmes ou repetir o Crime da Rua Cuba, que ocorreu em São Paulo, em 1988, não solucionado até hoje. Na ocasião, o também advogado Jorge Buchabki e sua mulher foram mortos a tiros dentro de casa. O principal suspeito era o próprio filho do casal, porém nada ficou provado, e o crime já prescreveu!
Diariamente os jornais de Brasília e do restante do país levantam uma hipótese para o crime, para, no momento seguinte, desfazê-la. O caso está entregue a uma Delegada que afirma categoricamente que o crime será solucionado.
O delegado da época de Sherlock Holmes era o inspetor Lestrade, da Scotland Yard. Em certa passagem de um dos contos, ele é cercado pela Imprensa que lhe pede que nomine o suspeito por um crime brutal.
Lestrade precipitadamente o faz, sendo criticado por Sherlock Holmes, que filosofa: “é um erro capital teorizar, antes de ter em mãos todas as evidências”. Apesar do conselho do grande detetive, é impossível o povo não especular. Brasília toda discute o caso!
Postado por Theófilo Silva, Presidente da Sociedade Shakespeare de Brasília e colaborador da Rádio do Moreno.
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