Na peça Lady Windermere's Fan, de Oscar Wilde, há várias passagens interessantes sobre o cinismo, a hipocrisia e a moral. Entre todas, as mas emblemáticas estão no III Ato. Cecil Graham, um jovem pouco afeito aos modos, faz uma distinção entre a fofoca e o escândalo: "A fofoca é charme! A história é apenas fofoca. Mas o escândalo é a fofoca com as tintas do tédio dadas pela moral" (p. 46).
O que vem a seguir é uma pérola: "O homem que dá lição de moral é um hipócrita e a mulher que o faz é invariavelmente uma desqualificada". No avançar da conversa, ele pergunta para o Lorde Darlington: “O que é um cínico?”. Este então responde: “Um homem que sabe o preço de tudo e o valor de nada.” (p. 68).
O cinismo, a nobreza e o segredo se cruzam no drama de Wilde e nos mesmos personagens: Lady Windermere, traída, sai de casa e, sem o marido (Lorde Windermere) saber, vai aos aposentos de Lorde Darlington, seu declarado amor. É, nesses aposentos, que os homens entram a travar o diálogo descrito acima, enquanto as mulheres se escondem.
Com a ajuda da suposta traidora, Mrs. Erlynne, Lady Windermere sai sem ser notada, na hora em que Erlynne se sacrifica, como se assumisse um furto (do presente dado pelo marido à Lady Windermere e esquecido sobre um móvel às vistas do homens, o leque, "fan") ou um caso com Darlington ou as duas coisas, ao se apresentar a eles. Tudo, para recompor o casamento dos Windermeres.
O numero de quês é proporcional às tendências dos seres humanos retratados na sátira que Wilde faz da sociedade vitoriana. Seremos todos cínicos? Seremos todos nobres? A natureza humana é um segredo.
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