segunda-feira, 7 de setembro de 2009

7 de 7mbro

Dia de comemoração no pré e no pós-sal, com os cuidados devidos aos hipertensos (de-corpo e de-mente). Pois esta segunda-feira é uma das mais agradáveis, embora segunda, talvez porque se pareça com os pacho- e cachorrentos (dia nacional de levar os bichinhos para passear) domingos. É 7 de setembro. Viva D. Pedro que disse aos patrícios que ouviram do Ipiranga as margens plácidas de um povo heróico o brado [ku-obradu?] retumbante [Independência ou Morte]. E, então, o sol da Liberdade, em raios fúlgidos brilhou no céu da Pátria nesse instante. Tem gente que critica o Hino por suas frases musicais lembrar o parelha francês e ser plágio de uma sonata de Paganini. Para mim, a parte mais desagradável (feia, cacófona) fica por conta daquela estrofe que canta "Se em teu formoso céu risonho e límpido à imagem do Cruzeiro resplandece". Galo, claro. O Galo resplandesce. Certamente não fizeram alusão ao Glorioso por conta da simbologia do galo português e francês. Mas num se valeram da similaridade musical, por que não o Galo também, voilá, pois comê suan fassuá (suan é nome de carne ou de moça? - desconsidere a dúvida de mau gosto)? Foi o que atrapalhou a doce e quase sóbria Vanusa.

Mas é 7 de 7mbro. E com Dunga, contra Dunga e apesar do Dunga, sou mais Brasil. ===========================================================

Com intenção puramente educativa e cultural, divulgo o texto do médico, psicoterapeuta, neurocientista, escritor, artista plástico, mestre em artes pela ECA-USP e doutor em linguística pela Universidade de Toulouse-Le Mirail, (de onde?. Da França), Cláudio Guimarães dos Santos "Independência ou morte?", publicado na FSP deste 2009/7/7.

EM VEZ de um risonho verde-amarelo, os que têm olhos para ver deveriam pôr-se de luto neste mês de setembro. É bem verdade que existem os que já sonham com a fartura do pré-sal. Pois dele abusam, de forma eleitoreira, os publicistas do governo que só faltam profetizar, como fez o Conselheiro, que o sertão vai virar mar.

É bem verdade que boa parte da classe média se regozija com os carrinhos "zero" e com as viagens a Miami que agora são possíveis pelo valor baixo do dólar -esse mesmo que corrói as nossas exportações. É bem verdade que os humildes comemoram a sua ascensão -da classe Z à X- graças ao Bolsa Família, que apenas perpetua o triste clientelismo que nos legou, entre outros, o pai dos pobres Getúlio Vargas (que alguns tentam imitar).

Poucos, porém, se recordam dos tributos que nos escorcham a quase todos, uma vez que os poderosos, esses fazem o que querem, como ficou muito claro no "affair" Lina/Dilma e no caso Palocci. Para uns, resta a quebra desavergonhada dos sigilos bancários. Para outros, sorriem os fóruns privilegiados.

Esquece-se amiúde que a democracia brasileira é capenguíssima, que os que votam, na maioria, são eleitores de curral, ainda que de um curral novíssimo -eletrônico e televisivo. Por meio dele, os marqueteiros, essa excrescência da sociedade pós-moderna, fabricam os novos eleitos, manipulando a opinião de quase cidadãos, os quais sucumbem, sem resistência. Os cinco séculos de abandono e deseducação, patrocinados, sobretudo, pelos "coronéis de m..." e pelos "cangaceiros de terceira categoria" -para nos servirmos de termos em voga no Senado-, é que os deixaram assim: omissos, submissos, meras vaquinhas de presépio.

Raríssimas são as vozes que se erguem para dizer que há um Brasil legal (e perfumado) e um Brasil real (e fedorento); que a Justiça tarda e falha indecorosamente; que avançamos, a galope, para um caudilhismo plebiscitário tipo Chávez; que o governo tenta, a todo custo, atar as mãos do Ministério Público, uma das poucas instituições das quais (ainda) podemos nos orgulhar; que a representatividade dos eleitos é uma lorota; que a coerência ideológica dos partidos é nenhuma, sobretudo a do finado PT, que tantas saudades deixou do tempo em que abraçava as causas populares.

À nossa volta, o que sentimos é uma gosma asquerosa que extravasa (aos borbotões) precisamente das bocas em que apenas a verdade deveria ressoar, que contamina quase tudo o que se vê, o que se ouve e o que se pensa. Num tal estado lastimável, só nos resta, talvez, sonhar.

Que maravilha se ouvíssemos de certos advogados que eles não mais contribuiriam, com sua astúcia, para que os endinheirados permanecessem impunes.

Que maravilha se as faculdades de direito só parissem tribunos vibrantes -combativos como os Gracos e éticos como Sócrates-, em vez de nos entupir com bacharéis ignorantes, vários deles arrivistas e venais.

Que maravilha se os senadores, em vez de suprimir o Conselho de Ética, tivessem um insight moralizante e assumissem inteiramente os seus crimes. Como seria belo ver a tribuna do Senado, tantas vezes enxovalhada, refulgir com as confissões dos pecadores contritos.

Que maravilha se os nossos caras-pintadas tomassem de novo as ruas, exigindo nada menos que as cabeças dos canalhas que envergonham a nação, em vez de se perderem em bebedeiras ridículas, em competições de aprendizes ou em grevezinhas uspianas, anódinas e burocráticas.

Que maravilha se os intelectuais dos anos 70, antes tão progressistas, novamente se arriscassem para lutar contra a ditadura que célere se aproxima, em vez de se agarrarem às tetas estatais ou de ficarem em casa gozando indenizações. (E como seria coerente se as tivessem doado, tão logo recebidas, ao "lumpenproletariat".)

Que maravilha se os imortais da academia, num gesto vivo e nobre, repudiassem, veementes, os que denigrem o país, mesmo que um seu semelhante estivesse entre eles. (Que não exista na ABL nenhum genial defunto-autor, como Brás Cubas, com isso ninguém se espanta. Mas que lá haja tantos autores-defuntos, isso dá o que pensar. Pois somente os mortos conseguem ficar calados ante a tragédia imensa que se abate sobre nós.)

Apenas sonhar, porém, não nos levará muito longe. Vemo-nos, assim, ainda que muitos não o queiram, condenados a agir e a nos insurgir contra esse silêncio incompreensível dos bons. Cabe-nos, portanto, a difícil decisão: o que queremos, afinal, para o Brasil?

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Terra adorada

Entre outras mil,

És tu, Brasil,

Ó Pátria amada!

Dos filhos deste solo és mãe gentil

Pátria amada, não se esqueça, Brasil!

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