Alain Badiou talvez seja o filósofo francês vivo mais debatido no mundo. Suas teses desafiam a idéia de que os dilemas filosóficos são sempre os mesmos para todos em qualquer lugar. Sua ontologia se confunde com a matemática (a ciência do ser, com diz), ou, mais exatamente, “a teoria dos conjuntos” assim como a sua fenomenologia é a lógica, mais precisamente a teoria do topos (Le Concept de modèle. Introduction à une épistémologie matérialiste des mathématiques. Paris: Fayard, 2007). A matemática é o melhor paradigma da justiça (igualdade), por sinal, mais importante do que a liberdade. Ao “ser” nada pertence, tornando impossível o “evento” (L’Être et l’Événement. Paris: Seuil, 1988).
É crítico da filosofia pós-moderna, mista de aporia e elitismo, segundo ele, como é opositor da democracia parlamentar, dominada pelo poder econômico e falaciosa justificação. O povo, a seu ver, é a razão e a finalidade da democracia. Que povo? Os corpos e linguagens existentes nos embates livres e igualitários de seus projetos (o ser são muitos como as suas “verdades”), constituindo, assim, o que chama de “materialismo dialético”, distinto do materialismo dialético que cimentou a visão classista da política. Por essas e outras é chamado de “inimigo da democracia”. Também critica a ideologia liberal dos direitos humanos, repleta de contradições que leva a negar, deliberadamente, a emancipação que propõe defender.
A política, como instrumento de ação, deve expor “a real violência contra a fraternidade” (Le Siècle. Paris: Seuil, 2002, p. 83). Não é o pensar categorial, mas o agir na revolta contra a injustiça, vale dizer, contra a desigualdade. Nada que se pareça, por exemplo, com o procedimentalismo consensual de Habermas que termina por “estatizar” a concepção de política, bloqueando a apresentação da necessária violência da política por meio de normas jurídicas de re-presentação (p. 140 n.37). A igualdade não é algo a ser investigado ou pesquisado, mas um princípio a ser sustentado. O problema político genuíno é dado pela resposta prática à questão: o que pode ser feito em nome desse princípio?
A desestatização da política, especialmente por sua forma parlamentar, é fundamental para que se empreenda a práxis política autêntica. Entretanto, sua separação não importa o banimento do Estado do pensamento político. Não dialeticamente, Estado e revolução podem conviver. Um paradoxo?
Badiou defende o comunismo depurado dos equívocos históricos e vislumbra no mundo o mesmo cenário desastroso, existente no século XIX, que deu corpo aos movimentos pela igualdade: vastas áreas de pobreza, desigualdades cada vez maiores, a política voltada para os serviços da riqueza, o niilismo entre os jovens, a cooptação dos intelectuais pelo statu quo e o experimentalismos de alguns grupos à procurada de espaços para expressar a “hipótese comunista” do século XXI. Mas qual comunismo?
“Todo evento histórico é comunista, na medida em que ‘comunista’ designa a subjetividade transtemporal da emancipação, da paixão igualitária, da idéia de justiça, do desejo de romper com o compromisso do 'service des biens', da deposição do egoísmo, da intolerância à opressão, da absoluta proeminência da múltipla presentação sobre a representação”. (D’un Désastre obscur (Droit, Etat, Politique). Paris: L’Aube, 1991, p. 12-13).
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